Olá,
Aquele dia falamos sobre como é estar com Jesus. Que na época dele (e também na nossa), a maior experiência que ele proporcionava era o fato de que todos saíam amados, com a profunda noção de que estiveram com o amor em pessoa. Bem, temos visto dias loucos, mas o meu desejo é que independente do que aconteça, você não perca o calor do encontro que um dia teve com ele. Ele é o amor, e continuará sendo.
Comecei a pensar nas coisas. E orei por você. Daí escrevi essas palavras. Queria te falar todas elas. Então leia como uma forma de oração. Escrevi em primeira pessoa porque queria te passar experiências que já tive com Deus. Mas no final falei diretamente pra você. Porque é o que eu desejo que você tenha: comunhão com Jesus.
Nos dias aflitos, obrigo minha alma a passar por um pasto verdejante. Grito para minha existência que esse salmo foi escrito para os aflitos. Foi escrito pra mim. Grito para o meu coração descrente que Deus continuará existindo independente da minha dor. Ele continuará absoluto, perfeito, uma fonte inesgotável de tudo o que todos os seres humanos precisam. Tamanha grandeza me assusta, quase me desrespeita, mas de certa forma, me intriga. Deus permanecerá eternamente sendo o que é, independente do que os Homens façam e saber isso me inquieta. Não posso ser mais um Homem alheio à Deus. Não posso. Preciso dele aqui e agora, ainda que eu não esteja com a minha melhor cara, no meu melhor dia, na minha melhor semana. Preciso de Deus porque nos últimos dias ele tem sido meu sustento, ainda que eu não saiba. Preciso dele porque no minuto em que achar que não preciso, não serei capaz de respirar fundo. Preciso dele para me ajudar, me consolar, me falar as palavras que ainda não sei. Preciso dele no meio dessa sujeira. Os verdadeiros amigos não andam ao nosso lado só nos caminhos bonitos. Os melhores amigos conversam com a gente na madrugada. Grito para meus nervos que sou amiga de Deus, e que ele é meu amigo. E me cerco de sentimentos, canções e informações que possam me lembrar disso a cada momento. Minha vida está em suas mãos porque eu ainda estou vivo. Isso justifica tudo. Ele não me salvou em vão, não me atraiu com amor, em vão, não morreu por mim em vão. Não manda o sol, o fôlego e o alimento para mim, em vão. Motivo deve ter. É um motivo mais sério que a dor. Deus me sustenta com uma disciplina chinesa. Nasce o sol, desce a chuva, plantas crescem, é seu amor sussurrando pelos dias, que eu não estou só. Eu sinceramente não vejo como meu coração estraçalhado pode estar nas mãos de Deus. Me chega a faltar voz o fato de um Deus de amor assistir à tortura que têm sido meus dias, mas por algum motivo, não consigo separar minha existência de sua existência. Deus morreria em meu lugar, pra depois não pensar mais em mim? Que mérito teria esse ato? Se foi por amor, então Deus pensa em mim a cada segundo, e me assiste e me sonda e me conhece e me mantém. Não entendo seu amor em meio à dor, mas entendo que a dor foi o caminho que ele mesmo escolheu para se aproximar de mim. Esta minha dor, menor que a dor dele, precisa se curvar diante dessa verdade. Posso estar sofrendo, mas a verdade me diz que o amor resiste e existe em meio à dor, e a ressurreição habita sempre no final. Eu preciso dessa ressurreição. Em tudo. Se as outras pessoas não precisam ou não querem, eu vou. Vou com o coração estilhaçado e enquanto vou em direção a presença de Deus me sinto estranhamente completa. Aparentemente nada mudou, mas ir me faz lembrar do que vim fazer no mundo. Eu vim ao mundo para ir à presença de Deus enquanto os dias acontecem. Eu vou. Sob o conforto estranho de que o que Deus espera de mim, é isso. O filho procura o pai. O servo procura o senhor. A criatura quer saber quem é seu criador. A ovelha ouve a voz do pastor. Isso me conforta. As coisas estão desorganizadas, mas eu estou cumprindo minha função básica enquanto ser humano: eu estou me dirigindo ao senhor dos senhores, eu estou com o olhar atento ao que ele quer de mim, e as outras vozes são só barulhinhos que querem me distrair e atrapalhar a minha vocação de ser uma pessoa que busca a Deus e o conhece no dia da angústia. Isso é fé. Não é a minha razão me confortando. Não são meus planos falidos. Não é nada disso. É fé. Uma porção que Deus dá aos homens, mas poucos sabem estender a mão para receber. Fé em vida. Fé em palavras. Fé no sangue que foi derramado. Fé no perdão. Fé de que nada vai me separar do amor de Deus, nem altura, nem profundidade, nem as coisas do presente, nem as coisas que virão. A fé não está procurando razões pra se apoiar. A fé não está fazendo promessas mentirosas. Ela está me mantendo segura quanto à mim mesma. Quanto à minha vida em relação a Deus. Ela está viva dentro de mim, mais forte do que eu, mais sábia do que eu, e quando eu começo a me sentir inútil, justamente por precisar tanto dela, eu descubro que na verdade ela também precisa de mim. A fé precisa de um corpo pra habitar. A fé precisa de uma boca que faça uma oração. A fé precisa de uma mente para dedicar-se a ela, um coração disposto a comprar essa briga, pernas e braços que desejem levantar-se todos os dias com uma certeza. A fé precisa de alguém para satisfazer o coração de Deus. Quem ela deve procurar? Os religiosos ocupados demais com sua própria voz? Os loucos que se esquecem que são só Homens? Os insensíveis? Os rebeldes? Os amargos? Os corações duros, teimosos e ignorantes? Gostaria que a fé me encontrasse. E agora minha guerra muda de cenário. Não estou lutando contra o mundo, contra as pessoas, contra as decisões delas, contra a falta de amor que muitas vezes dói em mim. Eu estou lutando para que a fé, dentro do meu coração, faça sentido. Fé em milagres? Fé no futuro? Fé em Deus? Fé em que? Fé que justifique a minha existência. Fé que me ensina a sentir coisas certas. Fé que me faça acreditar que Deus ainda me ama, independente do que eu não entendo. A fé só pode habitar em pessoas. É tudo o que Deus tem a me oferecer. Sem isso, nada do que ele me oferecer fará sentido. A fé é um convite. Sem ela não há comunicação com Deus. Não há amanhã. Não há como vencer o dia mal. A fé não mata o dia mal, ela só faz com que eu não morra junto com ele. A fé é o ar no seu pulmão. Ninguém vê. Está dentro. Ninguém vê, mas está em movimento. Está trabalhando por você. A fé existe para que eu me lembre de que nasci com o propósito de sentir Deus todos os dias da minha vida. Independente das circunstâncias, independente das ameaças, do abandono. Eu preciso saber que há um Deus presente, socorro no dia da minha angústia. Eu preciso saber que não estou sozinho. Eu preciso saber o que Deus quer comigo no meio de tantas coisas difíceis. Ele quer chamar minha atenção? Dobrar meu joelho em reverência a sua existência maior? Quer saber o que há dentro do meu coração? Quer saber de fato o que eu mais amo? Ele quer apenas que eu chore em seu colo? Sem fé é impossível agradar a Deus. Esse é o segredo que o mundo todo deseja tanto saber. É por isso que escrevemos livros, e nos enchemos de álcool. Queremos saber o que estamos fazendo aqui, mesmo com a dor, mesmo com a falta, mesmo com toda dificuldade. O que nos entristece não são os momentos difíceis, o que realmente nos entristece é não saber como viver quando eles acontecem. Os choros virão, as alegrias também, mas quem é você? No que você tem usado sua fé? Em você? Num plano? Numa idéia fixa? E se Deus tiver coisas maiores? E se Deus tiver o inefável, e se Deus mostrar nos próximos dias que você é muito mais capaz do que imaginava? Capaz de amar outra vez, capaz de ter histórias que mudem a vida das pessoas, capaz de ser a prova viva de que o amor sempre vence, porque você conseguiu levantar no dia seguinte pra trabalhar? E se o verdadeiro milagre for sentir Deus curando a sua dor dia após dia? E se a verdadeira vitória for continuar apesar da realidade congelada? O mundo espiritual, anjos, demônios, criaturas que nem conhecemos, ficariam de fato muito perplexos. Poderíamos ter todos os motivos pra abraçar a morte, poderíamos achar que a ovelha ferida se parece com a morte, mas quanto mais dói, mas ela deseja o pastor. Mais ela sonha com pastos verdejantes. É seu instinto, sua existência, seu lugar. Há um lugar pra você. Para a incabível dor. Há continuação. Existe uma história maior, onde o seu sentimento é nítido diante de Deus, e só por causa disso, a semente do tamanho de uma lágrima floresce pra avisar que haverá futuro. Que a sua escolha seja a de que você também deve continuar vivo.
Em amor,
Luciana Elaiuy.
Tags:ele ele, loucos, minha alma, os melhores, pra mim
Comentários